quinta-feira, 25 de abril de 2013

Eu queria te contar agora que não dói mais. Só que agora não importa tanto o que você vai pensar sobre isso. Queria que você soubesse que já vi nosso filme milhares de vezes e nem chorei. Ok, chorei. Mas pelo filme, e não por você. 
Queria que você soubesse que tirei a poeira das nossas músicas, e que as ouço quase todos os dias. Porque eles me faziam mais falta do que você fez. 
Os nossos lugares não são mais nossos. Voltei lá com outras pessoas, e escrevi lá outras histórias... 
Eu estou aprendendo a tocar violão. E a primeira música que toquei foi aquela música que era espécie de hino pra nós dois. Ela é tão linda... E sim, ela continua sendo muito nossa e lembrando demais você. Mas ainda sim, não dói. Você não pergunta essas coisas, mas sei que gostaria de saber. Porque te conheço. E isso não mudou. Do mesmo jeito que adivinhei as coisas ruins que você aprontaria, eu sei as coisas boas que ficaram aí em você e te fazem lembrar de mim. Porque a vida segue. Mas o que foi bonito fica com toda a força. Mesmo que a gente tente apagar com outras coisas bonitas ou leves, certos momentos nem o tempo apaga. E a gente lembra. E já não dói mais. Mas dá saudade. Uma saudade que faz os olhos brilharem por alguns segundos e um sorriso escapar volta e meia, quando a cabeça insiste em trazer a tona, o que o coração vive tentando deixar pra trás.
— Caio Fernando Abreu

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